sábado, 4 de fevereiro de 2012

RESENHA DO LIVRO FATOR MELQUISEDEQUE



SEMINÁRIO TEOLÓGICO DA MISSÃO JUVEP

   
GILDELANIO DA SILVA



TRABALHO DE ANTROPOLOGIA CULTURAL
PROFESSOR JOSE ROBERTO PRADO


 
Resenha para obtenção de nota do Livro O FATOR MELQUISEDEQUE (O testemunho de Deus nas culturas através do mundo), Don Richardson, Editora Vida.
        
  
JOÃO PESSOA – PB
JUNHO - 2009

 
RESENHA DO LIVRO: O FATOR MELQUISEDEQUE

 No prefácio do livro entendemos melhor porque o autor escolheu mudar o título do livro para este atual. Os termos “O fator Abraão” (implicações missionárias da revelação especial nas escrituras) e o “O fator Melquisedeque” (revelação original que deixou um importante rastro na memória dos povos denominados primitivos). Daí surgiu o título do livro que era ETERNIDADE EM SEUS CORAÇÕES para mostrar que Deus deixou um testemunho profundo que pode e deve ser aproveitado como ponto de contato pelos missionários.

A partir daí o autor divide o livro em duas partes UM MUNDO PREPARADO PARA O EVANGELHO (capítulos 1 a 4) e O EVANGELHO PREPARADO PARA O  MUNDO (capítulos 5 a 7).
1. Baseado no primeiro capítulo (POVOS DO DEUS REMOTO) pude ver que o testemunho divino tem dois aspectos: de um lado a lembrança de um Deus Soberano e Bom e do outro a idéia de um mensageiro que trará um livro e uma mensagem sagrada do grande Deus. Daí se verá a lógica da frase: Deus preparou o mundo para o evangelho e o evangelho para o mundo.
Este livro mostra que O Deus Desconhecido (AGNOSTO THEO) dos atenienses, o THEOS e LOGOS dos gregos, O JAVÉ dos hebreus, o THAKUR JIL dos Santal, (Calcutá, Índia)  o EL ELYON dos Cananeus, o MAGANO de Gedeo (Etiópia), o KORO dos Mbak (Republica centro africana), o SHANG TI dos Chineses, O HANAMIM dos Coreanos, Y´WA dos  Karen (Birmânia), KARAI KASANG dos Kachin, GUI´SHA dos Lahu, o SIYEH dos Wa, PHRA-ARIYA-METRAI (Senhor da Misericórdia e não a quinta manifestação de Buda) dos Shan e Paloung, CHEPO-THURU ou GWANG dos Naga (24 tribus da Índia), todos estes nomes se refere ao mesmo Deus que os antropólogos chamam de O DEUS DOS CÉUS.
O autor afirma que o sucesso do budismo sobre o confucionismo e o taoísmo na China foi a constante mudança e adaptação de suas doutrinas para torná-las mais aceitáveis aos chineses, sem confrontar com seus costumes – o budismo mostrou-se disposto a fornecer os deuses que os chineses podiam adorar - Daí é percebido que o método da contextualização cultural e/ou a aculturação de uma mensagem pode obter um tremendo efeito.
2. No capítulo segundo intitulado de POVOS DO LIVRO PERDIDO o autor faz grandes revelações. Ele afirma que centenas de cristãos nos paises ocidentais são influenciados por um esteriótipo de trabalho missionário, que funciona basicamente como um empreendimento ineficiente e improdutivo. A maioria dos cristãos pensa que cinco convertidos para cada vinte anos de trabalho missionário é coisa normal. E protesta dizendo: “Nada poderia estar mais longe da verdade”. Poucos cristãos sabem que dois estados inteiros da Índia predominantemente Indu – Nagaland e Mizoram – possuem alta porcentagem “per capita” de cristãos batizados do que qualquer outra região de igual tamanho em qualquer parte do mundo.
Neste capítulo é visto uma lista de povos que reconhecem a existência de um Deus Criador soberano que um dia irá trazer um mensageiro com a grande revelação através de um livro perdido onde missionários encontraram uma grande ponte de partida para pregar o evangelho de Jesus.
O autor levanta uma questão um tanto polêmica sobre os porta-vozes dos povos primitivos: Epimênedes, o profeta cretense; Pachacuti, representante de viracocha; Kolean, o sábio Santal; Pu chan, o profeta Wa; Khamhinatulu, a profetisa Mizo; e Moreza, o advinho etíope – o que pensar deles? Seriam eles levantados por Deus para comunicarem a revelação geral de um Deus criador?
Diz o autor: Melquisedeque, Bildade, Zofar, Elifaz e Eliú, esses cinco homens tementes a Deus, viviam na terra de Uz. Ninguém sabe como vieram a conhecer a Deus em Uz sem a ajuda de Abraão. De fato, ninguém sabe se quer onde fica Uz. Provavelmente, até mesmo Abraão era alguém desse tipo quando Javé falou-lhe pela primeira vez em Ur dos Caldeus. Quando Abraão chegou a Canaã, ele se encontrou com Melquisedeque, rei da cidade de Salém, que já servia como sacerdote de El Elyon – nome tribal cananeu para Deus. (Gn. 14.18-20; Sl. 110.4; Hb. 7.1ss.).
É possível que o próprio Jesus se referisse a pessoas dessa classe quando disse: “ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; a mim me convém conduzi-las...” (Jo. 20.16).
Diante destes argumentos o autor demonstra sua firme convicção de que cada um dos nomes mencionados, de alguma forma, foi canal de Deus na cultura onde foram inseridos.

3. No terceiro capítulo que tem por título POVOS COM COSTUMES ESTRANHOS, Don Richardson diz que a lei expressa na natureza pagã do homem serve para ele como uma espécie de Antigo Testamento intermediário. Isso na realidade não basta, mas é bem melhor do que não ter lei alguma. O próprio Salomão disse que Deus colocou “a eternidade no coração do homem” (Ec. 3.11).
Dentre os costumes estranhos dos povos e ao mesmo tempo comuns as Escrituras o livro cita:

  • O ritual dos Dyaks de Bornéu, envolvendo duas galinhas, onde uma é amarrada num barco emissário e leva os pecados do povo que clama: estamos salvos! – Bem semelhante aos bodes usados no rito anual dos hebreus.
  • A idéia de Novo nascimento do povo Asmat da Nova Guiné – povo canibal e caçador de cabeças.
  • A idéia de “lugar de refúgio” dos Yali e dos Hanaianos – parecido com o lugar de refúgio dos Hebreus. (Js. 20 e 21; Sl 31.1; Hb. 6.18).
  • As mensagens codificadas no misterioso sistema de escrita chinês.
  • O sagrado número quatro dos índios norte-americanos.

Estes e outros detalhes que soam bem estranhos a nossa cultura, porém para o autor é o ponto X da introdução do evangelho a essas culturas.
Richardson também afirma que o homem não regenerado é duplamente perseguido. Primeiro, ele sente a eternidade, em direção a qual ele se move – partícula finita que é – como alguém estranhamente destinado. A seguir, descobre gravada em seu coração uma lei que o condena a não atingir o seu destino eterno. Por isso, então, que almejam incansavelmente por um Deus que os socorra e conforte.

4. Neste quarto capítulo (ERUDITOS COM TEORIAS ESTRANHAS) é feito um apurado acadêmico e histórico deste fenômeno divino nas culturas primitivas ao redor do mundo. A pergunta é a seguinte: Será que os eruditos do mundo acadêmico secular conhecem este fenômeno chamado MONOTEISMO NATIVO? Se não, este trabalho não atingiria seu objetivo e não seria eficaz, afirma o autor.
No século XIX surgiu um teórico escritor inglês por nome de EDWARD B. TYLOR, com sua obra Cultura Primitiva. Este afirma que o ponto comum nas religiões primitivas é a idéia de alma. Outro ponto é a origem evolutiva do monoteísmo. Tylor diz que o animismo gerou o espiritismo, que gerou o politeísmo e daí chega ao monoteísmo, mas apenas em países onde o fenômeno social de estratificação de classes o instigou e também o fenômeno social da monarquia.
A idéia de Tylor é que nenhuma cultura poderia apresentar uma idéia monoteísta sem possuir um monarca, pois não teria sentido para eles. Esta pressuposição foi defendida pelo frade austríaco WILHELM SCHMIDT, editor da revista ANTROPOS, e também o escocês ANDREW LANG, descrito como o discípulo favorito de Tylor. Estes dois, juntamente com os demais teóricos do mundo, estavam em harmonia neste ponto: a figura do deus dos céus precisava ser eliminada desde os primeiros estágios da religião, como sendo excessivamente elevada e incompreensível as mentes selvagens (primitivas).
Em 1898, Andrew foi surpreendido por um relato de um missionário alegando que um povo primitivo reconhecia a idéia de um Deus criador, e daí, Andrew passou a crer e pesquisar no caminho oposto ao seu mestre admirável. Até confessou que estava defendendo uma teoria falsa, referindo a Tylor. Foi o começo do fim desta teoria. E em 1912 (ano da morte de Andrew Lang), Schmidt publicou (a origem do conceito de Deus) e defende o monoteísmo nativo. Ao chegar em 1955, juntado todos os volumes publicados (12 volumes), Schmidt acumulou 4.000 páginas de evidências sobre a origem do conceito de Deus.
Influenciados ainda pela teoria de Tylor, os fundadores do COMUNISMO, Karl Marx, Friedrich Engels e Vladimir L. Lênin, decidiram que deveriam aniquilar a religião da face da terra através do comunismo, tortura e perseguição aos religiosos (num sistema político congenitamente anti-religioso). Ambos marcaram a história mais não conseguiram cumprir este objetivo macabro.
O conceito de Tylor sobre a evolução da religião é ainda ensinado como o principal fundamento do ateísmo nas faculdades e universidades de todo o mundo comunista, porém, é garantido que sua teoria já foi ultrapassada e comprovada como equivocada, pois há um testemunho geral do Deus verdadeiro nas culturas primitivas pelo mundo.

5. No capítulo cinco é feita uma CONEXÃO DE QUATRO MIL ANOS, abordando o fator Abraão e o fator Melquisedeque.
Segundo Dr. Ralph Winter (do centro norte-americano para missões mundiais), Gênesis 12 é o verdadeiro começo da Bíblia e tudo que vem antes é apenas a introdução.
Nos três primeiros versos apresenta a aliança abraâmica, também chamada de a promessa ou as promessas. Esta aliança não marcou a primeira vez que Deus revelou-se aos homens, pois Adão, Caim, Abel, Sete, Enoque, Noé, Jó e, sem dúvidas, muitos outros até chegar a Abimeleque e melquisedeque, Contemporâneos de Abraão.
Don Richardson argumenta que há sete idéias (revelações) ao redor do mundo nas religiões primitivas e que também antecederam a Abraão, são elas:
1)      Existência de Deus;
2)      Criação;
3)      Rebelião e queda do homem;
4)      Sacrifícios para aplacar a ira de Deus (ou tentativas em recebe-las pelos demônios);
5)      Dilúvio;
6)      Aparição de muitas línguas;
7)      Reconhecimento da necessidade de novas revelações de como reatar a comunhão com Deus.

Todos estes elementos sobreviventes encontrados em todo o mundo são chamados de revelação geral (fator Melquisedeque). O fator Abraão surge como revelação especial (Sl. 110.4; Hb. 5.4-10; 6.20; 7. 15-22). E Jesus é o Senhor tanto da revelação geral como da revelação especial.
A luz da revelação geral é ofuscada pela revelação especial mediante o Messias, tendo como alvo, “todas as famílias da terra”. Deus se compromete, em toda trajetória bíblica, em cumprir a promessa feita a Abraão e estendida a todas as famílias da terra. (Gl. 3.8,14,16,19,29). Ver também (At. 3. 22,23,26; Ef. 3.3-6; 3.9-11; Rm. 15.8-9; 16.25,26; Hb. 6.18; Ap. 5.9-10; 7.9; 10.11; 11.9; 13.7; 14.6). E assim fazer a conexão de quatro mil anos de história e de plano amoroso de salvação dos povos.

6. Neste sexto capítulo (UM MESSSIAS PARA TODOS OS POVOS), o autor faz uma ligação profunda entre os dois testamentos e mostra Jesus cumprido o propósito da bênção abraâmica para todos os povos. “Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia... antes que Abraão existisse, Eu sou” (Jo. 8.56,58).
Jesus foi crucificado no Gólgota um pouco adiante dos muros de Jerusalém e cerca de 1.600m do alto do monte Moriá, na terra onde Salomão edificou o templo e onde Abraão subiu para sacrificar seu filho Isaque (Gn. 22). O autor afirma que a vida inteira de Jesus, morte e ressurreição estavam intimamente ligadas à promessa secular de Javé a Abraão em favor dos povos de toda a terra. Não é a toa que Mateus começa sua crônica sobre Jesus com uma genealogia de 42 gerações até chegar a Abraão Mt. 1.1-16. Confirmada no cântico de Maria (Lc. 1.54-55), na profecia do sacerdote Zacarias (Lc. 1.72,73,78,79), por Simeão (Lc. 2.30-32) e João Batista (Lc. 3. 4,6,8,9).
            O autor Don Richardson entende que as pessoas “que jazem nas trevas” citados nos textos acima são os gentios e afirma que era mui adequado, portanto, que Jesus, O messias judeu, tivesse algum sangue gentio. Quatro mulheres gentias são mencionadas na genealogia de Mateus, todavia pertencente à linhagem messiânica. São elas:

  • Tamar, mulher de Judá, natural de Canaã;
  • Raabe, mulher de Salmon, natural de Jericó;
  • Rute, mulher de Boaz, natural de Moabe;
  • Bate-sebá, mulher de Davi, natural dos heteus.

Isto confirma o vinculo gentílico na Genética de Cristo, que nasceu em Belém da Judéia e foi Galileu, simplesmente para cumprir as profecias (Mq. 5.2; Is. 9.1-2). Jesus também confirmou sua vinda em cumprimento das profecias bíblicas (Lc. 24. 25-27).
O próprio Jesus proclamou o seu evangelho aos gentios (Mt. 8. 5-13; Lc. 7.9; 13. 28-29; Mt. 15. 21-28; Lc. 10.13; 4.16-19) e também recomendou aos seus discípulos que descem continuidade a este propósito (Mt. 28. 19-20; Mc. 16.15-16; At. 1.8).
Daí o autor discorre entre muitos textos do AT e do NT comprovando o argumento de que o Messias foi enviado para todos os povos como cumprimento da bênção abraâmica e finaliza mostrando que Jesus transformou 11 homens judeus com espírito tribal etnocêntrico em apóstolos para todos os povos.

7. Neste último capítulo o autor trabalha o tema A MENSAGEM OCULTA DE ATOS, onde finaliza a visão missionária do fator melquisedeque na extensão da obra missionária pelos apóstolos.
Richardson declarou que o exemplo de compaixão de Jesus pelo centurião romano, a mãe siro-fenícia, o leproso samaritano, o endemoninhado gadareno, o general sírio Naamã, a viúva de Serepta, os homens de Nínive, dentre outros, atingiu o objetivo de anular o preconceito do coração dos apóstolos e motiva-los a ir até aos confins da terra.
Pois, a concessão em Atos 2 da capacidade milagrosa para falar em línguas “não-judaicas” seria supérflua se o propósito fosse conceder bênção apenas aos judeus. Mesmo sabendo desta missões para as nações, os discípulos acomodaram-se em Jerusalém (At. 5.28; 6.7), e foi preciso Deus mandar uma perseguição para que houvesse uma dispersão (diáspora) para outras regiões longínquas, conforme Atos capítulo 8.
O etíope evangelizado por Felipe e o centurião Cornélio evangelizado por Pedro já demonstra a existência de outros povos na época que conhecia o Deus dos Céus, e Pedro, chega a admitir: Jesus... Senhor de todos. (At. 10.36; 15. 9,11,14).
Paulo e Barnabé, constituídos como apóstolos dos gentios (At. 9.15; 13.1-3,46,47; 14.27), foram os que mais viveram esta experiência de forma plena e eficaz. O próprio Paulo revelava esta convicção do chamado missionário (Ef. 3.6; 2.14; Gl. 3.28).
Finalmente alguns discípulos reconheceram a necessidade de ir a outros povos e chegaram aos continentes europeu, asiático e africano e ali foram martirizados. Talvez a força motivadora maior tenha sido a destruição de Jerusalém por Tiro, em 70 A.D. E o autor conclui dizendo: “Se representarmos o fator Abraão, recusarmos o fator Sodoma e reconhecermos o fator Melquisedeque com o dízimo de crédito por ele merecido – PODEREMOS CUMPRIR ESTA MISSÃO!           

  APRECIAÇÃO CRÍTICA
 
Este livro foi pra mim muito esclarecedor. A visão abrangente que o autor apresenta o tema leva-nos a reconhecê-lo como autoridade em missiologia e como admirável escritor.
Os termos fator Abraão e fator Melquisedeque para as revelações geral e especial de Deus foi muito destacado de forma bem criativa e teologicamente defendidos pelo autor que, com ricos detalhes e provas, demonstrou esta verdade nas culturas por todo o mundo.
Os testemunhos missionários, os pontos científicos e acadêmicos abordados, como também a visão panorâmica das Escrituras num prisma missionário faz deste livro sacro, uma enciclopédia missionária indispensável a todos que estudam e vivem a teologia missionária.

Louvo a Deus por esta rica oportunidade!




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