A CONVENÇÃO BATISTA NACIONAL DO BRASIL E A TRADUÇÃO DA BÍBLIA
A
Tradução, o Tradutor e os Desafios
1.
1. A
Tradução da Bíblia no Contexto Brasileiro
Oficialmente é reconhecido no Brasil
a existência de 228 etnias indígenas.
Mas, imagina-se que existem mais de 300
etnias cultural e linguisticamente distintas.
De
acordo com o relatório do Departamento
de Assuntos Indígenas da
Associação de Missões Transculturais Brasileiras (mesmo havendo inda algumas
discussões em torno do assunto) existem hoje 181 línguas indígenas no Brasil.
Em 54 delas existem programas de análise lingüística e letramento em andamento.
Em 31 dessas línguas há trabalhos de tradução em andamento. Das 181 existem
apenas 3 línguas com a Bíblia completa traduzida as quais podem ser usadas por
7 etnias. Existem também 32 Novos Testamentos completos traduzidos que podem
alcançar 36 etnias visto que o Novo Testamento, na língua Tukano, pode
ser usado por mais 4 outras etnias. Em 23 línguas há apenas porções da Bíblia
traduzidas. E, existem atualmente 69 línguas sem a tradução da Bíblia.
2.
Os Tradutores
Há algumas décadas os tradutores da Bíblia
em terras brasileiras eram missionários estrangeiros. Hoje já existem algumas
dezenas de missionários tradutores brasileiros entre povos indígenas
brasileiros.
O missionário tradutor necessita de um
treinamento especial em algumas áreas bem específicas: Além de um bom preparo
bíblico e teológico, ele precisa receber capacitação nas áreas de lingüística,
antropologia, princípios de tradução e educação bilíngue e intercultural.
O trabalho de um tradutor é normalmente
lento e árduo. O missionário tradutor que atua junto a povos com línguas
ágrafas começa com o estudo da língua, análise lingüística, a fim de chegar à
definição de uma ortografia. Simultaneamente ao estudo da língua, ele realiza
também uma pesquisa antropológica para compreender os costumes, as crenças, a
organização social, a religiosidade e a cosmovisão do povo. Esse estudo
lingüístico e antropológico é essencial para o trabalho de tradução da bíblia.
Além do trabalho diretamente ligado à
tradução, o missionário tradutor normalmente produz material didático (livros
de alfabetização e leitura), atua na alfabetização na língua materna e no
treinamento de professores nativos.
3.
Desafios e Barreiras que dificultam o trabalho de tradução
3.1. Visão imediatista da igreja
Vivemos num mundo imediatista. Vivemos na
era do "fast food", de coisas instantâneas. Esta característica da
nossa sociedade tem influenciado fortemente a visão da igreja no que diz
respeito à obra missionária. Trabalhos missionários considerados bem sucedidos
são trabalhos que apresentem grandes resultados num curto espaço de tempo.
A tradução da Bíblia é um trabalho árduo,
moroso e com resultados a médio e longo prazo. Dependendo do contexto, da
complexidade da língua, das pressões políticas e ideológicas, das dificuldades
de acesso ao povo, a tradução de um Novo Testamento pode levar de 10 a 25
anos. A Bíblia toda, 40 anos. E influenciadas por uma visão imediatista,
igrejas não estão dispostas a investir em trabalhos com resultados a longo
prazo.
3.2.
O Alto Custo de uma Tradução
Para líderes e igrejas influenciados por
visão de "mercado", os custos de uma tradução é visto como um
investimento alto de mais em algo com "pouco" retorno. Os povos
indígenas brasileiros são povos minoritários, povos com uma população
relativamente reduzida.
O investimento financeiro numa tradução
começa desde o treinamento específico do missionário tradutor e vai até o
início do processo de distribuição dos exemplares impressos, os quais
normalmente chegam às mãos dos nativos sem nenhum custo ou com um baixo custo
para os mesmos.
Os custos de uma tradução, em linhas
gerais, envolvem o treinamento do missionário tradutor, o sustento pessoal da
família missionária no campo, a aquisição de equipamentos e materiais, a
locomoção do tradutor até o lugar onde se encontra o povo, ajuda de custo para
os tradutores nativos, despesas com impressões, correções e reimpressões de
textos corrigidos, consultorias, os custos relacionados à impressão dos
exemplares da Bíblia ou Novo Testamento e outros mais.
3.3.
Barreiras Geográficas, Culturais e Linguísticas
Normalmente, os povos indígenas brasileiros
moram em locais de difícil acesso. Alguns moram ao longo das margens de grandes
rios. Para chegar até eles se faz necessário dias de viagens. Outros
vivem no meio da selva onde o único acesso se dá através de aviões de pequeno
porte. Isso influi diretamente nos custos ligado ao trabalho de tradução.
O missionário tradutor, para adquirir
conhecimento cultural e lingüístico, precisa residir onde o povo reside. Isso,
na maioria das vezes, exige o abrir mão de determinados confortos, exposição a
determinados riscos ligados a viagens e doenças tropicais, isolamento da
sociedade majoritária, distanciamento do convívio familiar, estudo árduo e
dedicação de tempo na pesquisa da cultura e da língua.
4.
Adaptação do Novo Testamento na língua Tukano
DEUS TAMBÉM FALA TUKANO
Durante
muitos anos, ouvimos falar de Deus em latim e depois em português. Muitas vezes
repetíamos as palavras sem nem mesmo compreendê-las. Agora compreendemos de
fato que Deus ama nos ama. Ele Ele não fala somente latim e português.
Ele também fala Tukano.
( Depoimento
de um Tukano)
“ A fé é pelo ouvir e o ouvir pela
palavra de Deus”. Romanos 10.17
Um dos trabalhos realizados pela Junta
Administrativa de Missões da Convenção Batista Nacional foi a adaptação do Novo
Testamento para a língua do povo Tukano, do Alto do Rio Negro, no estado do
Amazonas.
O povo Tukano reside na fronteira entre
Brasil e Colômbia. Parte de sua população vive na Colômbia e parte vive no
Brasil. No final da década de 80, depois de 37 anos de trabalho, duas
missionárias da Sociedade Internacional de Lingüística – SIL- concluíram a
tradução do Novo Testamento para a língua Tukano na Colômbia.
Em 28 de dezembro de 1996 a JAMI, em
parceria com a Missão ALEM, enviou para o noroeste do Amazonas um casal –
Missionário Paulo César Nascimento e Luciene - para desenvolver um
trabalho de tradução e educação escolar junto ao povo Tukano. Depois de um
tempo estudando a cultura e a língua, o casal começou um trabalho de Adaptação
do Novo Testamento traduzido na Colômbia para os Tukanos que vivem no
Brasil.
Alguns motivos tornaram necessária essa
adaptação: A ortografia do Tukano da Colômbia era completamente diferente da
que estava sendo usada no Brasil; alguns termos e expressões chaves (mundo,
parábola, paz, saudação, e outros) usados na tradução da Colômbia não eram
usados pelos Tukanos do Brasil; alguns versículos, por uma questão de falta de
clareza, precisavam ser completamente mudados.
O
processo de adaptação do Novo Testamento na língua Tukano durou cinco anos. Em
fevereiro de 2003, após terem sido feitas as correções finais, demos início ao
processo de impressão. Num esforço de JAMI-CBN, Sociedade Bíblica do Brasil,
Sociedade Internacional de Lingüística, Liga Bíblica e Korean Bible Society,
o Novo Testamento Tukano foi impresso e está disponível nesta língua. Os 2500
exemplares chegaram ao Brasil em outubro de 2004. Em dezembro do mesmo ano
fizemos o culto de lançamento e demos início ao longo processo de distribuição
dos mesmos.
Durante todo o processo de adaptação houve
a participação essencial e indispensável de um indígena o qual veio a se tornar
o primeiro convertido, e, posteriormente, o primeiro missionário nativo junto
ao seu povo, Edmilson Sarmento.
Paralelamente ao trabalho de adaptação do
Novo Testamento, o casal de missionários da JAMI trabalhava com a educação
escolar indígena. Além de atuar como professores, o casal produziu material
didático na língua do povo: Um livro que fazia a transição da escrita e leitura
do português para a língua Tukano. Antes da chegada dos missionários somente o
português era ensinado na escola. As crianças ouviam o Tukano no cotidiano, mas
na escola estudavam apenas o português. Em 1998, a língua Tukano passou a fazer
parte oficialmente do currículo escolar. Além deste livro, o casal, juntamente
com os alunos que estavam sendo alfabetizados, produziu mais três livros de
leitura com histórias do próprio povo. Posteriormente, foi produzido também um
caderno de alfabetização para alunos das séries iniciais. Graças ao
investimento de JAMI e International Ministries (ABC) o material didático foi
produzido e entregue ao povo Tukano.
No primeiro semestre de 2009, com a
participação de 27 indígenas, o casal fez a gravação em áudio de todo o Novo
Testamento Tukano. Consciente de que o povo é de tradição oral e de que boa
parte da geração mais antiga não aprenderia mais a ler em sua língua materna.
Hoje, o Novo Testamento está disponível na língua Tukano em duas formas: na
forma escrita e em áudio.
Para a língua Parakanã já está traduzido o
livro de Lucas e em processo de tradução alguns livros do Novo Testamento,
fruto do trabalho abnegado e perseverante de dois missionários. O povo
Apalaí já possui o Novo Testamento e está em processo final a tradução do Velho
Testamento.
Dar ao povo a Bíblia em sua própria língua
é uma das tarefas missionárias da igreja, porque a língua materna é a língua do
coração do povo.
O trabalho de evangelização e a tradução da
Bíblia são esforços missionários da igreja pela inclusão dos povos na
educação, desenvolvimento humano, justiça social e conhecimento do seu criador.
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. João 8:32
Soli Deo Gloria!
Pr. Paulo Cesar Nunes
Nascimento
Teólogo/tradutor
Pr. Ronald S Carvalho
Diretor Executivo JAMI-CBN
Brasil
FONTE:
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