Jerônimo Savonarola:
A vida do monge italiano
Jerônimo Savonarola (1452-1498), geralmente apresentado como um dos precursores
da Reforma do século XVI, abrangeu vários campos da atividade humana na cidade
italiana de Florença. Existe, portanto, dificuldade em categorizá-lo. Teria
sido ele um reformador, um político, um filósofo ou talvez um legislador?
resultado de 748 volumes. Pesquisa semelhante em algumas bibliotecas
brasileiras mostrou a disponibilidade de apenas 10 volumes escritos sobre
Savonarola, quase que a totalidade de procedência italiana, nenhum de autor
brasileiro, e apenas um desses traduzido para o português.3
A dificuldade, entretanto, de
se classificar e entender Savonarola não advém em função de parcas fontes de
consulta. Poderíamos até dizer que a quantidade de obras escritas sobre
Savonarola é razoável. Entretanto, as mais extensas biografias são do período
romântico e tendem a extrapolar o mero registro dos fatos e introjetar uma
visão idealizada ao biografado. Como já indicamos, as múltiplas atividades e
ações atribuídas a Savonarola possibilitam que autores o apresentem à luz dos
seus interesses específicos, dificultando uma visão isenta de sua obra e vida.
Como exemplo, os 49 livros acima referidos estão divididos de acordo com o
quadro demonstrativo a seguir:
O livro mais importante sobre
a sua vida é, possivelmente, La Storia de Girolamo Savonarola e de’
Suoi Tempi, Narrata da Pasquale Villari Con L’aiuto di Nuovi Documenti (1850).
Este livro, escrito pelo Prof. Pasquale Villari, está também disponível na
língua inglesa4 e é um documento histórico precioso. A obra de Villari demonstra o
cuidado e a incansável pesquisa que caracterizam eruditos dedicados. O seu
trabalho é bastante abrangente cobrindo todos os pontos da vida de Savonarola.
O livro fornece considerável informação sobre o pano de fundo histórico dos
eventos e contém comentários valiosos sobre a filosofia, teologia e prática
homilética de Savonarola. A sua precisão se estende a minuciosos detalhes. O
livro de Villari é utilizado quase sem exceção por todos os livros posteriores
escritos sobre a vida de Savonarola, firmando-se como um padrão e palavra de
autoridade final, e foi o livro de utilização mais ampla neste ensaio.
Dois autores alemães são
mencionados por Villari como importantes biógrafos de Savonarola: Rudelboch
(Hamburgo, 1835) e Meier (Berlim, 1836). O primeiro, nos indica Villari,
tenta se concentrar na doutrina de Savonarola, enquanto que o segundo na parte
histórica dos eventos. No seu prefácio, Villari critica estes biógrafos alemães
de Savonarola, indicando que eles exageram as tendências protestantes do frade.
Esse é realmente um ponto nevrálgico de vários biógrafos corretamente
identificado por Villari, principalmente quando o relato provém do campo
protestante. Sobre esta questão pretendemos, posteriormente, traçar alguns
comentários.
William Crawford escreveu um
livro que se colocaria como o segundo em importância, em nossa
avaliação. Ele utiliza o livro de Villari como diretriz, mas evidencia ser
um estudioso independente de Savonarola, apresentando algumas pesquisas
próprias. Ralph Roeder é outro autor que escreveu uma biografia de fácil
leitura, mas de profundidade histórica menos intensa.7 Alguns outros
livros escritos especialmente sobre Savonarola são de menor importância e com
altos e baixos de qualidade.8 Extensa informação pode também
ser encontrada em bons livros de história que cubram o período.
Finalmente, existem alguns
documentos originais que foram compilados e publicados. De autoria do próprio
Savonarola, temos partes da Bíblia que utilizava, com alguns comentários,10 algumas cartas
e tratados apologéticos,11 bem como um trabalho sobre o livro de Apocalipse,12 um tema
favorito de Savonarola em suas pregações.
O propósito deste artigo, além
de apresentar o campo disponível para pesquisas sobre o monge dominicano e as
fontes utilizadas, é traçar um breve perfil histórico de Jerônimo Savonarola,
concentrado nos seus anos de maior atuação e influência em Florença, e examinar
o posicionamento de algumas de suas idéias, traçando um paralelo destas com a
visão de Lutero e Calvino, numa tentativa de discernir se poderíamos
classificá-lo como um pré-reformador teológico, como tem sido a tendência nos
círculos protestantes.
II. Infância e Formação
Jerônimo Savonarola nasceu em
21 de setembro13 de 1452 em uma das mais importantes cidades da Itália—Ferrara, na
época uma das cortes mais importantes do país, com cerca de 100.000 habitantes.
Filho de Niccolo e de Elena Savonarola, Jerônimo foi o terceiro dos sete filhos
do casal. Alguns biógrafos o apresentam como uma criança precoce, possuída por
uma inteligência superior, mas os trabalhos mais sérios contestam esta visão.
"A única marca característica de sua juventude era a sua seriedade",
diz Crawford.14 Aparentemente ele não era uma criança atraente, "… pois não
era nem bonito nem brincalhão, mas sempre sisudo e controlado".
Os Savonarolas possuíam
profundas raízes na história italiana. Alguns dos ancestrais de Jerônimo
estavam registrados nas crônicas, como personagens importantes da história
local. O mais importante Savonarola, além de Jerônimo, foi seu avô Michele,
conhecido por seu trabalho médico e pelo amor devotado ao neto que se tornaria
famoso. A reputação médica de Michele Savonarola levou-o a uma "… cadeira
na Universidade de Ferrara e à sua indicação como médico particular de Niccolo
d’Este".16 Por influência de seu avô, Jerônimo foi levado à sua casa e ali
estudou medicina até os dezesseis anos. Aplicando-se aos estudos, desenvolveu,
em paralelo, um forte senso de devoção que o levaria, no cômputo final, à vida
monástica. Roeder assim descreve esta situação:
… seu avô estava gratificado; ele previu o desenvolvimento de um médico
metafísico que excederia a sua própria pessoa, mas ainda não estava satisfeito.
Encorajado pelo seu sucesso, e sendo ele próprio uma pessoa de intensa devoção,
procurou melhorá-lo derramando toda a sua piedade naquela jovem mente. Ali ele
encontrou uma resposta ainda mais profunda.17
Após a morte de seu avô,
Jerônimo foi educado por seu pai por dois anos adicionais antes de ser enviado
à universidade, onde estudou cinco anos. A vida na universidade foi o seu
primeiro contato com o mundo e ali ele se conscientizou dos grandes males da
sociedade ao seu redor. A iniqüidade do homem, a corrução da sociedade, a
grande miséria do mundo, eram todas coisas completamente adversas à sua
formação. Ele deixou de ver necessidade ou de ter o desejo de dar continuidade
aos estudos médicos, mas começou a ansiar por uma dedicação de sua pessoa às
coisas de Deus e ao lado espiritual de sua vida. "Desgostoso com o mundo,
decepcionado em suas esperanças pessoais, cansado dos constantes erros que
observava e para os quais não possuía as soluções, ele decidiu temporariamente
dedicar-se à vida no mosteiro…"
Jerônimo, como médico, era a
esperança do seu avô e dos seus pais. Estes não admitiam que nada viesse a
desviar o jovem da brilhante carreira à frente e se decepcionaram com a decisão
tomada. Esta decepção e amargura está refletida no conteúdo das cartas trocadas
entre Savonarola e seu pai logo após a sua entrada na vida monástica. Isso
ocorreu no festival de S. Jorge. Os seus pais estavam, com o restante da cidade
de Ferrara, participando das festividades, quando Savonarola fugiu de casa indo
para Bolonha.19 O seu pai escreveu depois, em profunda tristeza:
Lembro-me como no dia 24 de
abril, dia de S. Jorge, em 1475, Jerônimo, meu filho, estudante das artes, saiu
de seu lar dirigindo-se a Bolonha, juntando-se aos irmãos de São Dominic, com o
intuito de tornar-se também um irmão. Ele deixou-me, Niccolo delle Savonarola,
seu pai, palavras de consolo e exortação, para minha satisfação.
Savonarola passou sete anos no mosteiro dominicano de Bolonha. Começou a
estudar intensamente a Bíblia e as doutrinas da Igreja. Durante a sua vida no
mosteiro, encontrava conforto na oração e no jejum. Logo foi comissionado a
instruir os noviços.
Enquanto estudava a Bíblia,
Savonarola começou a verificar, em paralelo, os males e a corrução reinantes na
Igreja. Descobrindo a verdade sobre o que ocorria por trás das paredes do
mosteiro, Savonarola teve o seu coração
…tomado por intenso pesar e movido por uma indignação irreprimível, ao
verificar a deterioração e corrução da igreja cristã… O estado do mundo e da
Igreja o preencheram com um pesar cheio de horror que só era aliviado através
do estudo e da oração.21
Savonarola foi se achegando
mais e mais à Bíblia ao ponto em que ela se tornou o seu guia inseparável.
Em 1481 foi enviado a Ferrara,
para pregar. Ali o ditado citado por Jesus de Nazaré (Lc 4.24) foi ratificado e
".. ele parece que causou pouca impressão em sua cidade natal".22 O seu
ministério em Ferrara foi interrompido por uma guerra civil. Isso fez com que
se deslocasse até Florença alojando-se no mosteiro de S. Marcos. Durante os
próximos anos permaneceria em Florença sem despertar atenção maior. Em 1482 ele
foi o orador de uma reunião de Dominicanos. Entre os seus ouvintes estava um
leigo ilustre: Giovanni Pico, conde de Mirandola (Pico della Mirandola).
O assombroso conhecimento que
fez de Pico a maravilha de sua geração e uma autoridade, mesmo em sua
adolescência, em praticamente qualquer assunto que viesse a tratar, deu um peso
todo especial aos seus elogios. Naquela augusta assembléia, estes elogios foram
derramados sobre um de seus membros mais obscuros. Naquele delegado de S.
Marcos ele reconheceu aquela qualidade que lhe faltava, e aquela que ele mais
invejava—convicção.23
Este foi o momento em que a
carreira de Jerônimo Savonarola começou a trilhar o caminho ascendente que o
colocaria em destaque junto às outras figuras internacionais do seu tempo.
III. O Cenário Histórico dos dias de
Savonarola
A. A Ascensão das Cidades
No crepúsculo da Idade Média e
no limiar da Europa moderna a história foi caracterizada por uma ascensão
gradativa da classe média. Progredindo do feudalismo às novas monarquias, a
classe média foi adquirindo cada vez mais influência. "Sob o feudalismo
ninguém era soberano. O rei e o povo, os senhores e os servos, estavam unidos
por um tipo de contrato. Cada um desses devia algo ao outro".24 Por outro lado
temos os reis que surgiram em meados do século XV, conhecidos como os Novos
Monarcas. Eles estabeleceram um sistema social completamente diferente, no qual
as guerras entre os nobres eram suprimidas, a unidade nacional enfatizada e a
lei e a ordem eram o objetivo principal. "Estes arrolaram como ponto de
apoio os integrantes da classe média, nas cidades, que estavam cansados das
guerras privadas e dos hábitos extravagantes dos nobres feudais".25
O feudalismo e as novas
monarquias ocorreram em paralelo durante algum tempo, mas existe um outro
importante aspecto nas condições sociais daquela época que aconteceu nesse
período de sobreposição. Referimo-nos à ascensão das cidades, situação na qual
a classe média teve importante papel.
Nos séculos IX e X as antigas
cidades haviam se deteriorado. Os grandes centros comerciais haviam
desaparecido e com eles a classe mercantil. Com o desenvolvimento do comércio a
longas distâncias os comerciantes iniciaram a formação de bases permanentes. As
cidades começaram a emergir, em tamanho e em importância como novos centros
comerciais, baseadas em razões econômicas e com o apoio da classe média. Como
uma conseqüência natural da base econômica dessas novas cidades, os
comerciantes começaram a se envolver na política. O desejo era na direção de um
auto-governo e de efetivar a quebra de todos os laços políticos e do poder dos
bispos e dos nobres. "No século XIII várias cidades na Europa haviam
adquirido o direito de decidir o seu próprio destino".26 Muitas dessas
cidades tornaram-se completamente independentes, especialmente na Itália, onde
prevalecia a falta de unidade política. Algumas delas migraram para uma forma
republicana de governo, tornando-se, em essência, repúblicas independentes.
B. Florença e os Médici
A cidade de Florença está inclusa nessa
categoria das repúblicas independentes.27 A forma de governo daquele
período, apresentada na República de Florença, abrigava provisões de ampla
representatividade de todas as classes, especialmente da classe média.Foi em
Florença que Jerônimo Savonarola passou a maior parte de sua vida. A cidade
vivia primariamente de sua indústria.28 A energia dos florentinos estava
focalizada especialmente na indústria e na política. "Algumas vezes
parecia que revolução era o principal esporte ao ar livre, de Florença, e
legislação constitucional o principal esporte praticado nos espaços
internos".29
Em 1434 um novo partido rico, liderado por um banqueiro local, Cosimo de
Medici, chegou ao poder.
Durante quase sessenta anos
após 1434, Cosimo e o seu neto Lorenzo, o Magnífico (m. 1492) administraram a
cidade manipulando a sua constituição republicana. Cosimo era um banqueiro
sugado pela política por seus interesses financeiros e que nela foi forçado a
permanecer para salvar a sua própria pele.
Lorenzo, por outro lado,
estava menos interessado nos negócios bancários. Ele era na realidade um
déspota típico que devotou a sua energia, dinheiro e visão estética à tarefa de
expandir e embelezar a cidade.
C. A Situação Geral da Europa
Fora da Itália, "…as novas
monarquias estavam criando órgãos administrativos centralizados de governo, os
quais, quando comparados aos antigos métodos feudais, apresentavam um
gerenciamento político eficaz e mais poder de ação para o estado".31 Estes estados
cresceram em poder em proporção direta aos seus interesses políticos e
territoriais. Começaram a se equipar com o que havia de mais moderno em armas
de fogo, artilharia e na organização de suas forças armadas. Em 1494 Carlos
VIII, da França, invadiu a Itália que estava muito dividida para expelir os
invasores franceses. Várias outras invasões se seguiram a estas e a Itália se
tornou "… o campo de batalha para as forças que lutavam pela regência da
península".32
D. A Igreja
No final do século XIII, a
Igreja atingiu o seu ápice administrativo, em riqueza e em poder. Após essa
situação, podemos observar um rápido declínio na Igreja Católica Romana, tanto
de poder como de moralidade. O declínio de poder foi provocado por um confronto
com as forças existentes, externas ao papado. Estas haviam existido por
gerações antes do século XIII, mas após esta era tornaram-se fortes demais para
permanecerem isoladas nos antigos limites. "Algumas destas forças, em
especial, eram as novas monarquias nacionais e as classes comerciais nas
cidades".33
Uma causa importante que
contribuiu para o declínio moral da Igreja foi a idéia comum que atingiu a
administração e que levará a ruína qualquer organização pública — "…a de
que a instituição existe para o benefício daqueles que conduzem os seus
rumos".34 O declínio na moralidade começou com a instituição do papado e
rapidamente atingiu todos os ramos e aspectos da Igreja Católica. Assim era a
situação da Igreja durante a vida de Savonarola.
IV. O Período de Popularidade de
Savonarola
A. Savonarola e os Medici
"Savonarola começou a adquirir a sua reputação como um profeta de
julgamento, chamando os homens ao arrependimento". Sua fama como
pregador estava crescendo e, pela intervenção de Pico della Mirandola em 1490
foi chamado por Lorenzo de Médici. A Savonarola foi oferecida a prelazia do
Mosteiro Dominicano de São Marcos. Após assumir estas responsabilidades o
sucesso de Savonarola foi imediato.
O costume do mosteiro era o de
que o novo reitor fosse prestar uma homenagem e demonstrar os seus respeitos e
gratidão a Lorenzo, o Magnífico. Savonarola, demonstrando a coragem e
determinação que o caracterizariam nos anos seguintes, recusou-se a cumprir com
esta prática e disse: "Considero que devo minha eleição somente a Deus e a
ele, somente, jurarei obediência".36 Lorenzo ficou profundamente
ofendido com este fato. Ele estava esperançoso de contar com a amizade e apoio
do frade que despontava como um poderoso pregador e que crescia em popularidade
dia após dia. Lorenzo disse: "Vocês viram? Um estranho veio até a minha
casa e mesmo assim ele não separa um tempo para me visitar".37
Logo Savonarola começou a
exercer grande influência entre o povo comum de Florença. Seus sermões
proféticos asseguravam-lhe grande popularidade. Seus sermões de condenação dos
males da Igreja fizeram com que fosse odiado por uns mas admirados por outros.
Ele era severo no julgamento do caráter das pessoas e pregava seus sermões com
ousadia, sempre expressando o pensamento de que não temia homem algum. Cedo
começou a sentir aversão por Lorenzo, o Magnífico, como nos indicam estas duas
citações:
Sabedor dos danos causados à
moral pública pelo príncipe, [Savonarola] não tinha qualquer desejo de
aproximar-se de um tirano que ele considerava não apenas um adversário e
destruidor da liberdade, como também o principal obstáculo na restauração da
vida cristã entre as pessoas.38
Rapidamente Lorenzo começou a
ressentir-se da influência exercida por aquele monge descompromissado, o qual
não se contentando em limitar-se às suas exortações morais, pregava com
confiança a vinda de um conquistador estrangeiro, a queda do Magnífico, a
precariedade do papa e a ruína do rei de Nápoles.39
O papa, na ocasião, era
Inocêncio VIII, que ficou conhecido por ser um dos expoentes da corrução do
papado. Ele havia sucedido a Sixto IV e possuía um íntimo relacionamento com os
Medici de Florença. Um filho natural de Inocêncio havia casado com uma filha de
Lorenzo. Em contrapartida, ele havia nomeado um filho de Lorenzo (um
adolescente com apenas treze anos) cardeal! Savonarola com freqüência
denunciava esta aberração.
Lorenzo de Medici faleceu em
1492, mas antes de morrer havia chamado Savonarola para com ele se confessar.
Como uma condição para a absolvição dos seus pecados, Savonarola exigiu que
Lorenzo restaurasse a Florença as suas antigas liberdades.40 Lorenzo não
concordou com a condição imposta e Savonarola retirou-se sem absolvê-lo.41 Nesse mesmo ano
ocorreu a morte de Inocêncio VIII sendo ele sucedido pelo Papa Alexandre VI.
O sucessor de Lorenzo foi Piero
de Medici e Savonarola revelou ser o homem mais poderoso daquela república.
Nessa condição ele começou a profetizar a queda dos Medici e foi bem sucedido
em direcionar uma grande parte da população de Florença contra eles.
B. Os Franceses
Savonarola havia predito que
alguém cruzaria os Alpes e descarregaria a vingança de Deus por sobre a Itália.
Nessa ocasião ocupava o trono da França o rei Carlos VIII, descrito como
"… um jovem de vinte e dois anos, cheio de uma estranha paixão pela
aventura".42 Carlos VIII tinha pretensões ao trono napolitano, mas o seu
objetivo era a conquista de toda a Itália. Esse seria o primeiro passo de uma
grande cruzada contra os turcos, com a qual ele pensava em imortalizar o seu
nome. No dia 22 de agosto de 1494 ele cruzou os Alpes iniciando uma
bem-sucedida marcha francesa contra os italianos.
Os franceses foram auxiliados
pela incapacidade de Piero de Medici e assim ganharam várias batalhas e
asseguraram o controle do território toscano, que pertencia a Florença. A
população ficou decepcionada e indignada, ao ponto de fazer com que Piero de
Medici, sentindo a gravidade da situação, viesse a deixar a cidade.
No dia 4 de novembro os
cidadãos mais velhos convocaram uma reunião especial do conselho dos setenta,
para poderem decidir as providências que deveriam ser tomadas. Todos os membros
apoiavam ou haviam sido nomeados pelos Medici, mas estavam tão enraivecidos
pela rendição covarde das fortalezas que a reunião foi tomada pela atmosfera de
uma assembléia republicana.43
Como resultado, Piero foi
declarado "… incapaz de reger o estado".44 Decidiu-se
também que seriam enviados embaixadores para encontrar os franceses e
informá-los de que a cidade estava predisposta a recebê-los. O padre Jerônimo
Savonarola foi um dos embaixadores escolhidos "…porque havia conquistado o
apreço de todo o povo".45
Na realidade o povo passou a
olhar os franceses como os cumpridores das profecias de Savonarola. Os
embaixadores liderados por Savonarola conseguiram expressar ao rei invasor os
mesmos sentimentos presentes na população de Florença — que o rei era um
instrumento nas mãos de Deus para que efetivasse o castigo da nação, pelos seus
crimes. Savonarola ganhou o respeito do rei e o acordo de que ele apenas
passaria pela cidade sem causar-lhe dano.
A invasão dos franceses é um
ponto de grande importância, pois resultou na queda dos Medici e no
estabelecimento de uma nova forma de governo para a cidade de Florença.
C. Savonarola no Poder
No momento em que os franceses
deixaram a cidade de Florença, a república viu-se dividida entre três partidos
diferentes. O primeiro, dirigido por Savonarola, era o dos Piagnoni,
e tinha como principal demanda a formulação de uma constituição democrática. O
segundo partido era formado por pessoas que haviam compartilhado o poder com os
Medici, mas que haviam se distanciado deles e eram chamados os Arabbiati.
O terceiro partido era composto dos seguidores fiéis dos Medici, chamados
os Bigi.
Esses três partidos se
igualavam em poder. Um governo eficaz, sob o antigo sistema florentino, parecia
uma impossibilidade real. Savonarola apresentou a necessidade de formação de um
grande concílio no qual todos os cidadãos de Florença estivessem representados.
Esse concílio foi formado e
declarado soberano em 1º de julho de 1495. O partido do povo se achava, agora,
em pleno controle da situação e a vontade do povo era regida por Savonarola.
Tudo parecia conspirar para o aumento da popularidade do pregador e para o
acréscimo do seu poder.46
Savonarola permaneceria no
poder durante os próximos quatro anos. Sua atuação foi marcada por reformas
morais, que se seguiram às reformas políticas, já efetivadas. Ele proclamou, em
Florença, o "Reino de Cristo" e continuou suas denúncias contra os
vícios e a luxúria. Prosseguindo na tradição medieval de pregação, já bem
estabelecida, ele apresentava e condenava os males da sociedade florentina. Sua
pregação influenciava tanto os ricos como os pobres. Um dos biógrafos,
possivelmente utilizando a palavra converter fora do estrito
sentido bíblico do termo, escreveu: "Ele converteu a muitos da classe artística.
Michelangelo, Botticelli, Cronacor, Lorenzo di Credi; dois da família della
Robia e Bartolommeo della Porta se achegaram à catedral de São Marcos."47
O resultado das pregações de
Savonarola foi sentido nas atitudes dos florentinos. Os incidentes conhecidos
como as "fogueiras das vaidades," em 1497 e em 1498, refletem a
receptividade dos habitantes de Florença às orientações de Savonarola:
"grupos de jovens foram organizados para percorrerem a cidade coletando os
símbolos da vaidade e do mal para serem destruídos."48 Esses objetos
eram queimados em uma grande fogueira erguida na praça central da cidade.
Muito tem sido escrito sobre
estas fogueiras. Alguns livros chegam a apresentar Savonarola como sendo um
inimigo reacionário das artes em função do que grandes artistas fizeram, como
Botticelli, que "queimou muitas de suas telas".49 Mas a maioria
dos seus biógrafos apresenta Savonarola como um estudioso de amplo
entendimento, sendo ele próprio um amante das artes, que não poderia ser
culpado dos excessos cometidos nas "fogueiras das vaidades".
D. A Queda
Era inevitável que esse
movimento independente por reformas, apesar de poderoso, viesse a colidir com
os interesses e com a política do papado. O Papa Alexandre denunciou Savonarola
como herege e interditou suas atividades como pregador. Inicialmente Savonarola
obedeceu a determinação, mas finalmente disse que Deus lhe havia revelado que
não deveria se submeter a um tribunal corrupto, e continuou a pregar. Começava
a surgir, também, a oposição do ponto de vista político fazendo com que o frade
viesse a perder grande parte do seu antigo apoio popular. "Nesse meio
tempo a rivalidade existente entre as ordens monásticas, encorajadas pela corte
de Roma, produziu a demanda, ao Papa, de um líder que viesse combater a
Savonarola".50
Um frade dominicano — Francisco
de Apulia — desafiou Savonarola a passar pela fogueira junto com ele para ver
qual dos dois contava com a aprovação de Deus. Savonarola recusou o desafio,
mas um amigo devoto, Frade Domenic Buonvicino, disse que passaria pela prova em
seu lugar. Toda a população de Florença recebeu a notícia com expectativa e
alegria. No dia 17 de abril de 1498 uma plataforma foi erguida na praça pública
de Florença. Nela foram colocadas grandes pilhas de madeira, separadas por um
espaço estreito, o qual deveria ser atravessado pelos frades, enquanto o fogo
consumia as fogueiras.
Uma grande discussão ocorreu
quando os dois frades chegaram ao local. Os oponentes de Savonarola não queriam
permitir que o frade Buonvicino entrasse no corredor de fogo carregando uma
cruz. Insistiam que ele deveria percorrer o trajeto sem qualquer forma de
proteção divina. A disputa foi ficando acalorada. As horas que se seguiram são
descritas da seguinte forma por Jean C. L. Sismond: Várias horas haviam se
passado. A multidão, que havia suportado a longa espera, começou a sentir-se
faminta, sedenta e a perder a paciência. Repentinamente uma chuva torrencial
caiu sobre a cidade vertendo um fluxo considerável de água dos telhados sobre
os presentes. As pilhas de madeira ficaram tão encharcadas que não podiam ser
colocadas em fogo. A multidão decepcionada, que havia aguardado com tanta
impaciência a manifestação de um milagre, começou a dispersar-se com a noção de
que havia sido manipulada. Savonarola perdeu todo o seu crédito e passou a ser
considerado, daí para frente, como um impostor.51
Nos dias que se seguiram, o
mosteiro foi tomado pelos Arabbiati, que se aproveitaram da
inconstância da multidão. Savonarola foi preso, juntamente com dois amigos.
Juízes foram enviados de Roma por Alexandre VI com a ordem de efetivar a
condenação de Savonarola à morte. Iniciou-se um julgamento no qual a utilização
de tortura foi freqüente. No dia 23 de maio de 1498, no mesmo local onde seis
semanas antes fogueiras haviam sido erguidas antevendo um triunfo, os três
monges foram queimados vivos.52
V. Análise da Mensagem e Idéias de
Savonarola
A. As Profecias de Savonarola
Muitas pregações de Jerônimo
Savonarola chamam a atenção pelo seu caráter "profético". Com isso
queremos dizer que elas não se constituíam apenas em exposições dos textos
bíblicos e aplicação às condições dos seus ouvintes e do seu tempo. A maioria
delas vão mais além e representam verdadeiras predições detalhadas de eventos
futuros, principalmente aqueles relacionados com Florença — seus dirigentes e
seus invasores — e com a instituição do papado. O fascínio da Savonarola com o
futuro começou com o seu estudo do livro de Apocalipse e com as pregações
sequenciadas realizadas com base nesse livro da Bíblia.53 Sua pregação
nem sempre teve essa característica profética. No início ela era concentrada
nas denúncias dos males e na necessidade de arrependimento.
"Arrependei-vos!" "O julgamento de Deus não tarda!"
"Uma espada está suspensa sobre vossas cabeças!" Todos esses eram
temas freqüentes de suas pregações que revelavam intensa sinceridade de
coração. Os seus ouvintes, entretanto, começaram a vislumbrar inferências
proféticas. As ilustrações e abundantes alegorias passaram a ser rotuladas como
sendo "visões", pelos florentinos, que as conectavam com os fatos que
haveriam de ocorrer.
Savonarola passou a ser
identificado como um "profeta" ao ponto de Pico della Mirandola
dizer: "Savonarola pode ler o futuro tão claramente quanto uma pessoa
qualquer pode identificar que um pedaço é menor do que a totalidade de uma
coisa".54 Simplificando um pouco o complicado raciocínio medieval de
Mirandola, ele está afirmando que, para Savonarola, a previsão do futuro era
tão simples e natural como a mais básica percepção da pessoa comum. Neste
estágio inicial, provavelmente Savonarola apenas apresentou um poder de análise
acima da média e uma aguçada conscientização do mal, ou como diz um autor, ele
"… viu com maior clareza do que as outras pessoas aquilo que era
inevitável".55
Com o passar do tempo, entretanto, começou a julgar-se um profeta no
sentido de um recebedor de revelações diretas de Deus. Não obstante estar
pregando sobre o livro de Apocalipse, Savonarola não foi alertado para a
suficiência, tanto do próprio livro,56 como da própria Palavra de Deus,57 e começou a dar
crédito às afirmações populares de que era um visionário, passando até a
propagar que possuía tais qualificações. Em seus últimos anos ele profetizou de
forma incontrolável, acreditava que tinha visões e demonstrou um comportamento
mais característico do fanatismo do que aquele que procede de um cérebro
equilibrado.58
Esse lado "profético"
do ministério e vida de Savonarola foi excessivamente enfatizado tanto pela
população, como por ele próprio, em seus últimos anos. O mesmo ocorre com
vários de seus biógrafos, que o apresentam como tendo essa característica em
toda a sua vida de pregador. Realmente a ênfase nas "visões" não
representa o aspecto mais saudável da vida de Savonarola, mas concentração
nesse aspecto místico desvia o enfoque daquilo que foi o maior mérito do frade:
a denúncia dos males da Igreja Católica e as suas reformas políticas
moralizadoras locais.
B. Savonarola e Lutero—Reformadores
Similares?
Um ponto aparentemente
pacífico, mas que clama por uma reflexão, é a classificação de Savonarola como
um reformador ou pré-reformador. Savonarola foi um reformador no sentido de que
ele batalhou por pureza moral e lutou contra os males sociais de seu tempo. Com
relação à igreja, ele conclamava a uma mudança de costumes e práticas.
Na esfera política e legal, ele também foi um reformador pois teve o papel
principal no estabelecimento de uma nova forma de governo na cidade de
Florença, consideravelmente distinta da anterior.
Savonarola, entretanto, não
pode ser considerado um pré-reformador ou mesmo um reformador
eclesiástico no sentido em que o termo tem sido aplicado a Huss, Lutero ou
Calvino. No estrito senso da palavra, um reformador deveria ter contribuído de
alguma maneira para o restabelecimento das doutrinas bíblicas, ter tido parte
ativa na remoção do entulho das tradições humanas que soterraram as verdades da
Palavra de Deus. A questão de restauração doutrinária excede à demonstração de
um mero zelo moral e sociológico que se apresentam como as características
principais de Savonarola. Ela excede até a expressão de intensa sinceridade
pessoal, que ele aparentemente possuía.
É verdade que o frade de
Florença é freqüentemente apresentado por seus biógrafos como sendo exatamente
um reformador. Uma enciclopédia biográfica o descreve como "… um
reformador antes da Reforma".59 Um historiador da Reforma do
Século XVI chama Savonarola de "precursor da Reforma".60 O exame mais
apurado de suas pregações, entretanto, revela realmente o desejo de uma
reforma moral, mas não doutrinária. Nesse sentido ele
não tem paralelo aos reais reformadores.
Ele não assumiu para si o
direito de examinar doutrinas mas limitou seus esforços à restauração da
disciplina, à reforma da moralidade do clero, a chamar os padres, bem como os
demais cidadãos, à prática dos princípios do evangelho.61
Lutero, comparativamente,
também mostrou preocupação quanto aos males morais, mas foi à raiz dos
problemas e realizou uma reforma doutrinária que afetou a estrutura completa da
Igreja Católica. Na visão de Lutero, a Igreja deveria retornar à pureza
doutrinária dos dias dos apóstolos. As reformas morais foram uma conseqüência
inevitável dessa ênfase, mas não subsistem como causa perene de mudanças. A
própria Igreja Católica teve em seus quadros homens de intensa sinceridade e
desejo de reforma moral, mas que conviveram pacificamente com os erros
doutrinários, como Erasmo de Roterdã.
Savonarola prendeu-se à prática
de certos sacramentos da Igreja, tais como a absolvição sacerdotal de pecados.62 Para fazer
justiça à sua memória, devemos registrar que no final de sua vida ele escreveu
um folheto sobre o Salmo 51 no qual se aproxima consideravelmente da doutrina
bíblica (e protestante) da justificação pela fé, mas aí ele já não exercia
tanta influência e no máximo o trabalho registra a sua postura pessoal perante
essas verdades. Lutero publicou este folheto com um prefácio elogioso.63
Mesmo sem ter iniciado ou tentado iniciar uma reforma doutrinária, os
méritos de Savonarola são consideráveis:
– Ele se dissociou completamente da estrutura hierárquica da Igreja
Católica Romana e levou consigo aqueles que se colocaram sob sua influência.
– Separando-se da Igreja, naquele época e situação, ele se preservou da
contaminação gerada pela corrução e males morais presentes na organização.
– Por utilizar a Bíblia como fonte primária de suas pregações, em vez da
tradição da Igreja, ele transmitiu muitos ensinamentos da Palavra aos
florentinos, desenvolvendo uma forma eficaz de comunicação e exortação a uma
vida moral.
C. Savonarola e Calvino—Legisladores e
Pensadores Semelhantes?
Savonarola regeu Florença durante quatro anos. Depois que os franceses
se retiraram da cidade e na véspera das grandes reformas políticas que haveriam
de ocorrer, Savonarola dirigiu-se ao povo dizendo: "se vocês querem um bom
governo, ele tem que ser derivado de Deus".64 Depois de assumir o poder na
prática, Savonarola procurou conservar em mente o que havia declarado. Durante
esses quatro anos,
…sem abandonar seus próprios assuntos sagrados, sem por um momento abrir
mão de sua elevada posição como um profeta e mensageiro de Deus, este homem
extraordinário estabeleceu o seu sistema de impostos, sua proposta de anistia
geral, e, talvez em sua mais importante ação, o seu plano para formação de uma
corte jurídica de apelo contra as sentenças do Otto, o corpo de
magistrados florentinos que se constituíam nos supremos juizes de todos os
casos.65
Savonarola foi um legislador
competente e intencionou criar em Florença a sua versão moderna de uma
teocracia. Por essa razão, ele é freqüentemente comparado com Calvino. Diz um
historiador: "Sua posição [em Florença] se assemelhava àquela que Calvino
ocupou por um longo tempo em Genebra".66 A semelhança, entretanto, se
restringe à sua capacidade e realizações como legislador.
Doutrinariamente, Savonarola e
Calvino diferem consideravelmente. Na melhor tradição de Tomás de Aquino,
Savonarola insistia tanto filosófica como teologicamente, na eficácia e
necessidade das boas obras e na irrestrita liberdade do arbítrio humano. Sobre
essa questão, Villari traz a seguinte citação de Savonarola: "É o livre
arbítrio que distingue o homem dos animais".67 Calvino não concordava com essa
visão simplista de diferenciação. Na realidade ele ensinou que o livre
arbítrio, no sentido de execução de escolhas, não representa essa distinção,
uma vez que os prórprios animais escolhem o que é necessário ao seu bem-estar.
Comentando o próprio pensamento de Tomás de Aquino,68 Calvino diz que
os da escola de Aquino:
… admitem que o livre arbítrio está ativo somente quando a razão
considera possibilidades alternativas. Eles querem dizer, com isso, que o
objeto do apetite deve ser influenciado pela escolha e que a deliberação deve
preceder o caminho da escolha. Na realidade, se alguém considera esta característica
do desejo natural do homem [como livre arbítrio] encontrará que ele tem isso em
comum com os animais. Estes também desejam o seu próprio bem-estar e quando
confrontam algo bom que apela aos seus sentidos eles o perseguem. Mas o homem
não escolhe pela razão e persegue com zelo aquilo que é essencialmente bom para
si, de acordo com a excelência de sua natureza imortal…69
Em uma outra declaração Savonarola diz:
Nossa vontade não pode ser
movida por nenhuma força externa, nem pelas estrelas, nem pelas paixões, nem
mesmo por Deus. O Criador não destrói mas preserva, movendo o mundo e todas as
coisas criadas de conformidade com as leis de suas próprias naturezas. 70
Essa afirmação de Savonarola
também contrasta com o ensinamento de Calvino,
que, refletindo Paulo e Agostinho, mantém a visão bíblica de que o arbítrio do
homem está aprisionado pelo pecado71 e somente a soberana graça de
Deus atinge aqueles que ele escolheu para a redenção. Sobre essa pretensa
autonomia humana, defendida por Savonarola, escreve Calvino:
A exaltação do homem em si
mesmo é o trabalho do diabo. Não devemos dar lugar a esses pensamentos a não
ser que queiramos ouvir os conselhos do inimigo. É um doce pensamento imaginar
que temos tanto poder interno que podemos confiar em nós mesmos! Mas não
sejamos enganados por essa confiança vazia; sejamos impedidos pelos trechos
numerosos e relevantes, das Escrituras, que totalmente nos humilham.72
Existe, portanto, muita necessidade de qualificarmos qualquer paralelo
traçado entre Savonarola e Calvino, pois certamente as divergências
doutrinárias são fundamentais e não secundárias.
Conclusão
Savonarola
foi um reformador político e moral que
viveu uma intensa e fascinante controvérsia num período crucial da história.
Suas reformas legislativas não sobreviveram a sua própria existência. Seus
chamados a uma moralidade de vida sem a base de vidas regeneradas pelo
evangelho da graça de Cristo, foram rapidamente sufocados pela pecaminosidade
latente dos que o apoiavam, rapidamente transformados em impacientes
perseguidores. Sua rejeição da estrutura hierárquica de Roma, por considerações
morais, não o levaram a uma reconsideração das doutrinas e desvios de ensino
daquela Igreja, tão distanciados das verdades bíblicas.
Savonarola tem o seu lugar de destaque na história, mas sua
classificação como pré-reformador ou até como um legítimo reformador ocorre
apenas se forçarmos ou romancearmos os registros da história. De modo algum
pode ser colocado em paridade com Lutero ou Calvino, que clarificaram as
principais doutrinas da Igreja, tornando visíveis e permanentes as distinções
que separam os protestantes da tradição Católica Romana.
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