quarta-feira, 6 de maio de 2015

EXEGESE DO NT - PASSO A PASSO





EXEGESE DO NOVO TESTAMENTO



 1.   INTRODUÇÃO 

            O termo exegese deriva-se da palavra grega “exegesis” que tanto pode significar apresentação, descrição ou narração como explicação e interpretação. Quanto à etimologia podemos entender exegese literalmente como "conduzir para fora de". Portanto, o uso da exegese possibilita ao estudante de teologia extrair dos textos bíblicos seu verdadeiro significado, apesar da distância de tempo e espaço e das diferenças culturais que nos separam.


            Para sustentar o alicerce da interpretação usa-se a hermenêutica como metodologia da exegese bíblica. A palavra “hermenêutica” origina-se do verbo grego “hermeneuein” cujo significado é  igual ao da exegese, ou seja, “interpretar”. Contudo, deve-se deixar claro a diferenciação entre um termo e outro. A hermenêutica bíblica designa os princípios que regem a interpretação dos textos; a exegese descreve as etapas ou os passos que cabe dar em sua interpretação. Em síntese, a hermenêutica apresenta as regras e a exegese é a prática destas regras.

            Uma outra concepção comumente reconhecida no meio acadêmico é a diferença entre o biblista e o exegeta. O "biblista" é aquele que apesar de conhecer os textos bíblicos, não aplica as ferramentas de interpretação à sua leitura e freqüentemente ensina e transmite sua "opinião" ou "experiência pessoal". O "exegeta", por outro lado, é aquele que além de ser conhecedor dos textos bíblicos, aplica as ferramentas de interpretação e ensina exatamente aquilo que o "texto diz" e não aquilo que ele “acha” ou “pensa”.

            Diante destas conceituações e com o propósito de evitar as “falácias” - interpretação superficial ou equívocada da bíblia - este ensaio indica o caminho a ser percorrido no uso das ferramentas interpretativas para a aplicação de uma boa exegese.

2.   AS TAREFAS DA EXEGESE 

            Dentro do contexto teológico, a ênfase da exegese recai sobre a interpretação de modos formais de explicação que podem ser aplicados ao texto bíblico. UWE WEGNER (2001), divide as tarefas da exegese em três aspectos principais: primeiro - Redescobrir o passado bíblico, tornando-o compreensível para a nossa época; segundo - Entender a intenção que o texto teve em sua origem e;terceiro - Verificar em que sentido opções éticas e doutrinais podem ser respaldadas biblicamente para a atualidade. Vejamos alguns exemplos práticos:

2.1         Redescobrindo o passado bíblico

a)   "Quem poderá se salvar?" Lemos em Mt 19.24-25 o seguinte: "... é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo?

Como explicar a admiração dos discípulos quando Jesus asseverou a dificuldade de salvação do homem rico? Naquela época a teologia corrente ensinava que a riqueza era uma demonstração da benevolência de Deus. Ora se os ricos que são abençoados por Deus dificilmente serão salvos, então quem poderá se salvar? Assim, redescobrindo o passado bíblico, podemos melhor explicar e compreender a admiração dos discípulos.



b)   “Qual a relação do orvalho do Hermom com a União?” Pérola 1. "Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! ...Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre. (Sl 133).

Se desconhecermos a geografia bíblica, não compreenderemos o brilhantismo desta mensagem. Na terra árida da Palestina, o orvalho é sinal de vida e garante, apesar da falta de chuva, uma boa colheita. O verso três do Salmo em apreço mostra uma situação da geografia e do clima de Israel. Hermom está localizado na fronteira nordeste de Israel e é coberto de neve, abaixo dele fica uma planície com montes menores. Essa região é muito seca e vive constantemente desértica.

Em determinadas épocas, devido ao calor, o gelo do pico do Hermom se derrete, na medida em que se derrete ele escorre montanha abaixo, fazendo transbordar as nascentes do Jordão. Com o descongelamento do gelo e a produção de água exposta ao calor, formam-se nuvens que se transformavam em chuvas. Quando a chuva rega a terra e molha o deserto, as sementes e raízes que estão ali começam a brotar.

Assim, a secura desaparece e a terra torna a ser produtiva e a "bênção" e a "vida" são ordenadas novamente. E é desta forma que o salmista compara a união entre irmãos como o orvalho de Hermom. E é assim que deve ser entendida. Enquanto houver união e amor a bênção do Senhor estará sempre presente. A união fraternal deve ser como esse orvalho do Hermom, precisa ser transformador. Uma atitude restauradora tem a ver com a restauração de relacionamentos que estavam mortos; verdadeiros desertos, porém quando tocados pelo amor fraternal se transformam em verdejantes e floridos.

2.2         Entendendo a intenção do texto

a)   "Será que Zaqueu era ladrão?" Em Lc 19.8, lemos o seguinte: "seem alguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado".

De acordo com a tradução em português ninguém pode afirmar que o publicano Zaqueu era ladrão, pois a conjunção "se" é condicionante. No entanto, o exegeta, ao verificar o texto grego descobre que a conjunção grega "ei" deve ser traduzida como: "já que" ou "visto que" em lugar do termo "se". Assim, exegeticamente, podemos afirmar que Zaqueu era corrupto.



b)   “Será que Jesus estimulou a má educação? "E não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho" (Lc10.4).

Estas expressões de Jesus não devem ser dogmatizadas para a prática da má educação. Jesus não estava ensinando isso. Acontece que as saudações na época eram prolongadas. Em resumo devia-se inclinar o corpo um pouco para frente, com a mão direita sobre o lado esquerdo do peito. Assim, o ensino de Cristo aqui, é acerca de remir o tempo; "...a noite vem, quando ninguém pode trabalhar" (Jo 9.4b).



2.3         Verificando bases éticas e doutrinais

a)   "As mulheres não podem falar na igreja?" Em 1Co 14.34-35 lemos: “as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja”.

Usando 1Co 14.34-35, um biblista poderá argumentar que as mulheres devem sempre manter silêncio na igreja. O exegeta, no entanto, descobrirá que este é um argumento baseado em um tratamento seletivo da evidência, pois Paulo diz três capítulos antes, que sob certas condições as mulheres podem falar na igreja (1Co 11.2-16). Deste modo, segundo CARSON (1999) a exigência de silêncio por parte das mulheres não traduz um conflito incompatível com 1Co 11.2-16, onde vemos que, sob certas condições, as mulheres tem permissão para orar e profetizar, porque o silêncio mencionado em 1Co 14.34-35 está limitado pelo contexto: as mulheres devem conservar-se caladas quando há avaliação de profecias, à qual o contexto se refere; de outra forma, elas estariam assumindo um papel de autoridade doutrinária na congregação.



3.   OS MÉTODOS DA EXEGESE

Os métodos mais conhecidos são o fundamentalista, o estruturalista e ohistórico-crítico. Apresentamos uma síntese de cada um destes três métodos:



3.1       O Método Fundamentalista

Originou-se nos Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial. Seu objetivo era o de salvaguardar a herança protestante ortodoxa contra a postura crítica e cética da teologia liberal. Esse método tende a absolutizar o sentido literal da Bíblia.

Seu aspecto positivo reside na seriedade com que encara a revelação de Deus, a inerrância bíblica, o nascimento virginal de Cristo, a ressurreição corpórea, a expiação vicária e a historicidade dos milagres.



3.2       O Método Estruturalista

É empregado como análise sincrônica da Bíblia. Enxerga o texto como estrutura e organização que produz sentido para além da intenção do seu autor. Este método procura responder as seguintes perguntas: “Como funciona o texto? Como produz seu sentido? Que se passa no texto em si?”

Como aspecto positivo destaca-se que o estruturalismo educa para uma leitura atenta do modo como o texto foi escrito (análise literária) e o que realmente está escrito no texto (análise das formas). Não obstante é um método de difícil assimilação, alto grau de complexidade e que apresenta propostas bastante diversificadas.



3.3       O Método Histórico-Crítico

É o mais usado em análises diacrônicas da Bíblia. Surgiu como uma crítica contra a interpretação alegórica da Bíblia na Idade Média, em favor, sobretudo, de um aprofundamento do seu sentido literal. Trabalha com fontes históricas procurando acompanhar a evolução histórica dos diversos estágios que formaram estas fontes.

O método caracteriza-se por ser racional e questionador. UWE WEGNER (2001) citando Troeltsch fundamenta os princípios que regem as análises históricas em três pressupostos principais: a crítica, a analogia e a correlação. A aplicação desses pressupostos às tradições bíblicas e teológicas, implica uma revolução do nosso modo de pensar em relação à Antiguidade e à Idade Média.



4.   PASSOS EXEGÉTICOS

Os passos exegéticos utilizados neste ensaio pertencem ao “Método Histórico-Crítico” e possui como base bibliográfica o Manual de Metodologia de UWE WEGNER (2001).

De forma simplificada estes passos podem ficar restringidos ao número de oito. Estes oito passos devem ser seguidos dentro de um mesmo texto bíblico. No entanto, trazemos a análise exegética com exemplos de textos diversificados, meramente, a título de ilustração.

  
5.    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, Klaus. As Formas Literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998.

CARSON, D. A. A Exegese e suas Falácias. São Paulo: Vida Nova, 1999.

CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

LIMENTANI, Giacoma. O Midraxe. São Paulo: Paulinas, 1998.

MARTINEZ, J.M. Hermenêutica Bíblica: Como Interpretar las Sagradas Escrituras. Barcelona: CLIE, 1984.

MOULTON, K. Harold. Léxico Grego Analítico. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.

PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1993.

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. Manual de Metodologia.São Leopoldo: Sinodal, 2001.
ZABATIERO, Julio. Manual de Exegese. São Paulo: Hagnos, 2007.

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