O IBGE divulgou os dados do Censo de
2010 sobre a religião (ou a não religião) declarada dos brasileiros.
Abaixo, segue o texto de autoria de Cecília Ritto para aVEJA Online, que
ouviu alguns especialistas a respeito. Digo o que penso a respeito desses
números no próximo post.
O Brasil ainda é a maior nação católica
do mundo, mas, na última década, a Igreja teve uma redução da ordem de 1,7
milhão de fieis, um encolhimento de 12,2%. Os dados são da nova etapa de
divulgação do Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). A tendência de redução dos católicos e de expansão das correntes
evangélicas era algo esperado. Mas pela primeira vez o Censo detecta uma queda
em números absolutos. Antes do levantamento de 2010, o quadro era apenas de
crescimento de católicos em ritmo cada vez menor. Mantida essa tendência, em no
máximo 30 anos católicos e evangélicos estarão empatados em tamanho na
população. Os números mostram uma redução acentuada de poder da Igreja Católica
no país nas últimas décadas: a mudança foi lenta entre 1872 e 1970, com perda
de 7,9% de participação no total da população ao longo de quase um século; e
tornou-se acelerada nos últimos 20 anos, quando a retração foi de 22%.
“O impacto dessa mudança é grande para
a Igreja Católica. A Rússia teve revolução e permaneceu ortodoxa. Os Estados
Unidos, mesmo com a Guerra Civil, se mantiveram protestantes. Entre os países
grandes, mudanças assim só ocorreram em consequência de de guerras e
revoluções. No Brasil, a revolução é silenciosa”, diz José Eustáquio Diniz,
demógrafo da Escola Nacional de Estatísticas.
Se em 1970 havia 91,8% de brasileiros
católicos, em 2010 essa fatia passou para 64,6%. Quem mais cresce são os
evangélicos, que, nesses quarenta anos saltaram de 5,2% da população para
22,2%. O aumento desse segmento foi puxado pelos pentecostais, que se
disseminaram pelo país na esteira das migrações internas. A população que se
deslocou era, sobretudo, de pobres que se instalaram nas periferias das regiões
metropolitanas. Nesses locais, os evangélicos construíram igrejas no vácuo da
estrutura católica.
“Houve uma mudança na distribuição
espacial das pessoas. A Igreja Católica é como um transatlântico, que demora
muito para mudar um pouquinho a rota, devido ao tamanho de sua estrutura
burocrática. Já os evangélicos são comopequenas embarcações”, explica Cesar
Romero Jacob, cientista político da PUC-Rio. A analogia apresentada por Jacob
se aplica com perfeição à comparação entre o tempo e o custo para se
ordenar um padre e o período de formação de um pastor, algo que ocorre em menos
de três meses. “Não existe espaço vazio”, resume.
Nas periferias, na ausência do estado e
da Igreja Católica, os pentecostais atuaram como guias espirituais e como
figuras centrais do assistencialismo. “As evangélicas pegaram fieis onde a
Igreja Católica não tinha se preparado para arregimentar a nova população, e
adaptaram a mensagem para diversos públicos”, diz Eustáquio Diniz.
Família
A preservação da família é um dos motivos que, segundo Jacob, serve para explicar o crescimento da Assembleia de Deus no país. De acordo com o censo de 2010, ela é o maior segmento evangélico, com 12 milhões de fiéis, e o segundo maior do Brasil, atrás da Igreja Católica. Em comparação com a igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, que perdeu 228 mil fiéis nos últimos 10 anos e hoje tem 1,8 milhão de arrebanhados, a Assembleia de Deus prega valores morais mais rígidos.
A preservação da família é um dos motivos que, segundo Jacob, serve para explicar o crescimento da Assembleia de Deus no país. De acordo com o censo de 2010, ela é o maior segmento evangélico, com 12 milhões de fiéis, e o segundo maior do Brasil, atrás da Igreja Católica. Em comparação com a igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, que perdeu 228 mil fiéis nos últimos 10 anos e hoje tem 1,8 milhão de arrebanhados, a Assembleia de Deus prega valores morais mais rígidos.
“Nos anos 90, época de expansão da
favelização, a mãe não queria a desestruturação da sua família, o que a
Assembleia não deixa”, explica Jacob, lembrando-se da proibição, por exemplo,
de bebidas alcoólicas e de roupas femininas mais insinuantes. A
favelização e a ocupação das periferias são resultado da migração dos anos 80 e
90, que deixou de ser motivada pela possibilidade de ascensão social e passou a
acontecer pela expulsão daspessoas do campo, em sua maioria pobres. As
correntes pentecostais acompanharam esses deslocamentos e, ainda na década de
90, entraram maciçamente na política.
A política se tornou um instrumento de
crescimento da própria igreja pentecostal ou do pastor. “É uma população com baixa
renda e escolaridade. Entre pessoas independentes economicamente e bem formadas
fica mais difícil o voto de cabresto”, afirma Jacob. A pesquisa do censo revela
que, apesar de os pentecostais crescerem na população pobre e de
baixa renda, na última década se fez presente também na nova classe média.
“A “teologia da prosperidade” é um dos fatores desse processo”, diz Eustáquio
Diniz.
Detalhes regionais e etários
Nos últimos 10 anos, manteve-se estável a proporção de cristãos. Isso indica tanto uma migração de católicos para as correntes evangélicas e para outras religiões. O segmento dos sem religião também cresceu percentualmente, e chegou a 8% da população em 2010. O contingente de católicos foi reduzido em todas as regiões e se manteve mais elevado no Sul e no Nordeste. O Norte foi onde houve a maior redução relativa dos católicos.
Nos últimos 10 anos, manteve-se estável a proporção de cristãos. Isso indica tanto uma migração de católicos para as correntes evangélicas e para outras religiões. O segmento dos sem religião também cresceu percentualmente, e chegou a 8% da população em 2010. O contingente de católicos foi reduzido em todas as regiões e se manteve mais elevado no Sul e no Nordeste. O Norte foi onde houve a maior redução relativa dos católicos.
Quanto à faixa etária, a proporção de
católicos foi maior entre as pessoas com idade superior a 40 anos.
Segundo o estudo, isso é decorrente de gerações formadas durante os anos de
hegemonia católica. Já os evangélicos pentecostais têm sua maior proporção
entre as crianças e os adolescentes, sinalizando uma renovação da religião. O grupo
com idade mediana mais velha é o dos espíritas (37 anos) que cresceu na
última década e chegou a 3,8 milhões de pessoas, sobretudo nas regiões Sudeste
e Sul. Os espíritas são os que apresentaram melhores indicadores, como a maior
proporção de pessoas com nível superior completo (31,5%).
FONTE
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