Ensaio sobre a Exegese & Exposição Bíblica
Exegese e Exposição Bíblica
Exposição bíblica é o comentário de uma perícope bíblica,
seja verbal seja escrita. A essência da exposição é a explicação.
Exclusivamente no contexto eclesiástico, a exposição se realiza no cenário da
Teologia Prática por meio da pregação ou do ensino. Esses dois momentos
indissociáveis da liturgia cristã propõem-se a expor, narrar, explicar e
interpretar o texto litúrgico, utilizando-se de variegados métodos que cumpram
os propósitos delineados. Geralmente esses métodos e as técnicas envolvidas na
exposição bíblica dependem da perícia de quem as usam, e diferem-se entre as
técnicas retóricas da pregação e astécnicas e métodos exegéticos.
Neste particular se insere a dicotomia entre o real e o
ideal. A experiência tem ensinado que essas duas habilidades nem sempre estão
associadas a um mesmo expositor, podendo ser ele um excelente orador sem
dominar uma única regra da exegese e ser um excelente exegeta sem a
sensibilidade expositiva de um pregador. Estabelecido essa premissa passemos a
responder à indagação posterior: O ideal é a osmose entre essas duas
habilidades e o completo domínio de ambas as técnicas pelo preletor. Por
conseguinte, a exegese e a exposição bíblica, fundem-se nos meandros do
exercício do ministério cristão, através da habilidade hermenêutica e exegética
do mestre, da perícia homilética do pregador e da ação noutética do pastor (Cl
3.16).
A finalidade do conluio entre a exposição bíblica e a
exegese é guiar-nos a uma compreensão adequada de Deus através de Cristo, a
Palavra Encarnada. As interpretações dos textos vétero e neotestamentários
devem ser o efeito de uma preocupação evangelística e pastoral, mais do que
técnica e documental. A exegese deve ser um instrumento que conduza o homem a
Deus.[1] Nesta altura podemos tirar uma ilação das características essenciais
da exposição bíblica, alicerçada numa exegese responsável e acadêmica. Para
cumprir o propósito dessa assertiva fortaleceremos o argumento com os textos de
Rm 15.14; Cl 1.28; 3.16; Ef 4.11-16. A saber:
1. A exposição bíblica é acima de tudo, uma explicação da
perícope bíblica com o fim de evangelizar, exortar, consolar e edificar o corpo
místico de Cristo, a Igreja.
2. A exposição bíblica é exegeticamente fiel ao contexto e a
intenção autoral.
3. A exposição bíblica de um texto litúrgico é coesa com o
restante das Escrituras.
4. A exposição bíblica baseia-se na exegese crítica de um
texto e rejeita as justificativas infundadas concernentes ao texto bíblico.
Dois Níveis de Exposição Bíblica: Científica e Eclesiástica
Para retomar, de outro modo, a generalidade do problema,
somos desafiados pela urdidura do comentário anterior, a deslindar os limites e
ênfases de duas características essenciais da Exegese Bíblica: A Científica ou
Acadêmica e a Eclesiástica ou Pastoral. [2]Embora sejam categorias da mesma
ciência, estão sempre em busca do enlace ou do divórcio e, é na prática
ministerial que este embate titânico se manifesta.
1. Exegese Científica. Sabedores de que os termos
“científico ” e “eclesiástico” são polimorfos e, portanto, sujeitos a
re-interpretações, julgamos necessário limitar o sentido destes vocábulos
dentro do contexto empregado. PorExegese Acadêmica entende-se a análise que
incidi sobre o texto todos os recursos teóricos, lingüísticos, gramaticais e
históricos subsidiados quer pela Crítica Textual, quer pela Crítica literária,
ou pela Crítica Histórica ou quaisquer meios disponíveis ao saber humano numa
base racional que exclui todo e qualquer saber não-racional.
2. Exegese Pastoral. No reverso da Exegese Científica temos
a Exegese Pastoral. Registre-se, portanto, que, ao diferenciar essas duas
formas metodológicas de exegese não se quer dizer que a exegese pastoral seja
a-científica, ao contrário, ela possui suas bases metodológicas, mas sua ênfase
está estritamente relacionada à vida da comunidade eclesial. Por Exegese
Eclesiástica ou Pastoral entende-se a exegese que se ocupa da exposição da
perícope bíblica dentro da esfera litúrgica ou catequética, visando, por
exemplo, não o destrinchar dos conteúdos do quadrado semiótico [3] que compõem
o texto, mas a sua exposição edificante, consoladora e noutética.
A distinção entre essas duas visões nem sempre é clara,
havendo mesmo aqueles que negam a distinção entre uma e outra. Simiam-Yofre
considera que a distinção entre essa bifurcação dentro da exegese seria
equivalente à existente entre pesquisa pura e aplicada:
A pesquisa pura se pergunta sobre o porquê de cada coisa no
interior de determinado sistema científico, dela podendo brotar ou não
resultados concretos utilizáveis pela técnica. Já a pesquisa aplicada
destina-se a resolver problemas concretos. A exegese pastoral se encontraria
mais próxima da pesquisa aplicada que da pura, e o problema concreto a resolver
seria o do crescimento e maturação da vida cristã no indivíduo e na
sociedade.[4]
A exegese bíblica é apenas uma, e a distinção entre
acadêmica e pastoral está intrinsecamente relacionada apenas à aplicação e a
ênfase, e não necessariamente a metodologia.
O exegeta além de nutrir-se de todos os progressos da
investigação lingüística, literária e hermenêutica, bebe na fonte dos gêneros
literários acrescentando os saberes da
retórica, da narrativa, e do estruturalismo, como ciências auxiliares ao texto
bíblico. Se não bastassem esses conhecimentos, vale-se ainda das ciências
humanas em suas múltiplas abordagens. Portanto, a ciência exegética está em
constante construção adotando o que cada período traz de contribuição à exegese
bíblica.
Nem sempre, o eclesiástico cuja atividade está limitada a
ação poemênica é capaz de acompanhar os progressos metodológicos da ciência
exegética, forçando ainda mais o aparecimento e fortalecimento de uma classe
acadêmica cuja entonação é a sistematização desse conhecimento.
Notas
[1] Cf. BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e
descomplicada. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 66.
[2] Simian-Yofre menciona em sua obra que em 1975, o exegeta
católico F. Dreyfus escreveu um artigo intitulado “Exégèse en Sorbone, exégèse
em Église”, onde o exegeta no afã de criticar o método histórico-crítico
procurava estabelecer uma diferença entre a exegese realizada nos centros
acadêmicos da exegese aplicada estritamente ao contexto da vida da igreja. Cf.
SIMIAN-YOFRE, Horácio (coord.). Metodologia do Antigo Testamento. Coleção
Bíblica Loyola 28. São Paulo: Edições Loyola, 2000, p.13-7.
[3] Método usado pelos estruturalistas criado para
estabelecer de modo preciso as isotopias semiológicas e a isotopia semiótica de
um texto.
[4] Cf. SIMIAN-YOFRE, Horácio (coord.). Metodologia do
Antigo Testamento. Coleção Bíblica Loyola 28. São Paulo: Edições Loyola, 2000,
p.15.
FONTE:
http://teologiaegraca.blogspot.com.br/2008/01/ensaio-sobre-exegese-exposio-bblica.html
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