O Propósito do Sexo no CasamentoLeland Kyken
Os Puritanos também tinham uma teoria totalmente
desenvolvida sobre os propósitos do sexo e do casamento. O contexto mais amplo
em que devemos colocar seus comentários é a tradição protestante unificada que
incluía tanto anglicanos como Puritanos. Enquanto autores individuais podem
modificar o esquema, a estrutura geral era uma finalidade tríplice para o
casamento, ou seja, procriação, um remédio contra o pecado sexual e uma
sociedade mútua.
A contribuição distintiva dos Puritanos dentro desta
estrutura foi mudar a ênfase primária da procriação para o companheirismo.
A ordem adotada no Livro de Orações Comuns foi (1) a
procriação de filhos, (2) a restrição e remédio do pecado, e (3) sociedade,
ajuda e conforto mútuos. James Johnson escreveu um capítulo inteiro para
mostrar que à medida que se desenvolveu o pensamento Puritano, o primeiro e
terceiro propósitos do casamento mudaram de lugar na lista do Livro de Orações.
Johnson fornece numerosas citações dos Puritanos, as quais não tenho espaço
para reproduzir, mas este resumo vale a pena ponderar:
É o resultado da ênfase Puritana sobre o companheirismo no
casamento que faz a primeira e última razões mudarem de lugar. Outra maneira de
dizer isto é observar que os Puritanos normalmente consideram um versículo do
segundo capítulo de Gênesis – “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem
esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” ao invés daquele
normalmente citado do primeiro: “Sede fecundos, multiplicai-vos” – para sua
explicação sobre por que o casamento foi instituído por Deus em primeiro
lugar.1
Na doutrina católica, a única coisa que havia salvo o sexo
no casamento era a procriação de filhos. Os Puritanos discordaram. Perkins
afirmou que “alguns escolásticos erram ao sustentar que a união secreta do
homem e da mulher não pode ser pecado a menos que seja feita para a procriação
de filhos”.2 Isto é semelhante à opinião de Milton de que:
Deus na primeira ordenação do casamento nos ensinou para que
fim o fez,... para confortar e refrescar o homem contra o mal da vida
solitária, não mencionando a finalidade de geração até mais tarde.3
Se a principal finalidade do sexo no casamento é a expressão
de amor e companheirismo mútuos, é uma perversão do sexo reduzi-lo a um ato
meramente físico. “Como podemos dois... tornar-se uma só carne legalmente”,
indagou Clever, “quando existe a falta de união e conjunção do coração, a mãe
verdadeira e natural de todos os deveres do casamento?”4 Perkins tinha algo
semelhante em mente quando escreveu: “Nada é mais vergonhoso do que amar uma
esposa como se ela fosse uma prostituta.”5 E Milton escreveu:
Embora a copulação seja considerada entre os fins do
casamento, entretanto o ato em si numa correta avaliação não pode ser mais
matrimonial do que é um efeito do amor conjugal. Quando o amor... Se
desvanece,... o ato carnal de fato pode continuar, mas não santo, não puro, não
apropriado ao sagrado laço do matrimônio, sendo quando muito nada mais que uma
excreção animal.6
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Transcrito do livro “Santos no Mundo”, Leland Ryken, Editora
Fiel, pág 62,63
1 James Johnson, p. 114. Johnson também observa que “exaltar
o companheirismo acima da procriação não significa para o Puritano que a
procriação tem menos lugar no casamento. Ao contrário, de um casamento cristão
se espera que produza descendentes como da vida sociável” (p. 116).
2 Christian
Economy [James Johnson, p. 68].
3 The
Doctrine and Discipline of Divorce [ CPW, 2:235]. Lutero havia
semelhantemente escrito: “A propagação não está em nossa vontade ou poder, pois
pais nenhuns são capazes de prever se eles... darão à luz um filho ou uma
filha. Meu pai e minha mãe não consideraram que queriam trazer um Dr. Martinho
Lutero ao mundo. A criação é de Deus somente e nós não somos capazes de percebe-la”
(Tischreden [Roland Bainton, What Christianity Says About Sex, Love, and
Marriage (Nova York, Association, 1957), p. 79]). Lawrence Stone, Family,
conclui que “teólogos protestantes de todas as persuasões haviam há muito
identificado o conforto mútuo e o apreço como duas finalidades do ato sexual no
casamento” (p. 625).
4 A Godly
Form of Househol Government [Schnucker, p. 302]
5 A Godly
and Lesrned Exposition of Christ’s Sermon in the Mount [Schnucker, p. 360].
6 Tetrachordon [CPW, 2:608-9]
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